O pinto perto da pia. A pia perto do pinto.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O último dia de sua vida não foi o mais intenso; não foi o mais assustador, nem mais igual que os outros... o último dia antes da morte, não existiu porque ninguém poderia saber do destino do homem. Sobrevivera mais um ano antes que os anjos pudessem carregar o seu corpo pesado e já cansado de tanto trabalho, de tantas horas na fila, insuportavelmente pálido de sombra e gordo. Seus braços eram pesados, suas mãos estavam pesadas, sua vista já era pesada. Era ridículo, falava alto, já deveu pro padeiro e pra Deus e o mundo, não era vagabundo, também nem quisera ser. Era fumante, bebia nas sextas, comia aos domingos, nas segundas chorava, nas terças trabalhava, noutro dia vibrava, ia embora nas quintas, sexta-feira sorria enquanto cantava no chuveiro e sábado morria. Foi morrer sem tomar banho, o velho gordo, deixou duas filhas, a esposa, a amante, o carteiro, as contas, os ingressos, uma viola velha sentada num banquinho, a cueca preferida, um envelope fechado e o cão que morreu aos 10 anos, vítima de um câncer.
No criado-mudo abandonou um livro aberto e marcado no fim.

Um comentário:

Neco Vieira disse...

Por isso que eu digo, não adianta ter tudo e nada no coração!

Beijão.

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